quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Beirut - Elephant Gun


Pra embalar a sua visita, amigo leitor...

Elephant Gun
(Trecho da letra)

If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we drink to die, we drink tonight

Se eu fosse jovem, eu fugiria desta cidade
Enterraria meus sonhos debaixo da terra
Assim como eu, nós bebemos até morrer, nós bebemos essa noite...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Álvares, Com Carinho.



Certa manhã acordei de sonhos inquietos,
E o despertar dessa inquietude arremessou-me noutra ainda maior;
Pois o homem que adormece, difere longitudinalmente do homem que desperta...

Vigorou em mim a epifania que me colocava em inconformidade tão grande,
Era um misto de azedo com um não sei o que, um amargo que se bem sei já foi doce...
Caia das minhas costas em direção ao solo a couraça caractereológica que me prendia;
Não me serve mais Álvares de Azevedo.

Ainda que te atirem serpentinas póstumas sobre o embargo de que foi poeta e amou na vida,
Não me serve mais Álvares de Azevedo.
As serpentinas deste teu fúnebre carnaval são negras, exasperam luto pelos cantos...

Não entenda que lhe odeio, por contrário... Em ti vi o reflexo que sempre vigorou em mim,
Se hoje me sei, foi porque busquei no espelho imagem semelhante a que via em ti...
Se hoje sei do anseio que causa a fixação na imagem virgem e imaculada da primeira noite,
Foi porque vislumbrei com água nos olhos, a virgem na periferia dos teus sonhos.

Mas esta manhã acordei de sonhos inquietos. Não me serve mais Álvares de Azevedo!
Justo eu, que outrora apud teus ensinamentos, vim de encontro ao desprendimento;
O que sabes tu sobre olhos castos, o que sabes tu sobre o jardim que é a pureza;
Ao que me consta, o nobre poeta desregrava-se ainda jovem em orgias de pleno gozo carnal...

Não me serve mais Álvares de Azevedo.
Pois dei de mão em imaculada virgem e a possui ali mesmo, no chão...
O mesmo chão onde agora repousam teus ossos, o mesmo chão pra onde um dia irão os meus...

Não desmereço a musa dos teus sonhos caro Álvares, mas difere em muito da minha.
A tua, criação de um coração radiante admito; mas a minha foi esculpida por mãos divinas...
O corpo cândido que tocara somente em teus devaneios noturnos, toquei em vida.
Não me serve mais Álvares de Azevedo.

O mal do teu século, ainda que trajado de certa elegância, não me pertence!
Despeço-me da casca de polidez dos romancistas da tua época, pois eu...
Eu quero viver, quero sentir mais uma vez o gosto bom que tem a boca casta,
E quando tiver de morrer, já que é imperioso, que seja assistindo o sorriso que cativei ao longo da vida, que seja dizendo ao meu filho:
- Cuida de tua mãe durante minha morte, o tanto que cuidei em vida.

 Minha lápide eu sei, não será tão formosa quanto é a tua e não há de ter o dito:
“Foi poeta e amou na vida”, mas ao regar as flores póstumas dedicadas a mim, com o pranto cadente nos olhos ainda castos, minha musa de carne e osso saberá sim que amei na vida!
É por isso Álvares de Azevedo, que não me serve mais...

A Álvares de Azevedo, com carinho. Por: Antônio Piaia

Capitu - Olhos de Ressaca


(Trecho da minissérie Capitu, inspirada na obra de Machado de Assis)


Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada." Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...

Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno. Este outro suplício escapou ao divino Dane; mas eu não estou aqui para emendar poetas. Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos cabelos de Capitou, mas então com as mãos, e disse-lhe,--para dizer alguma cousa,--que era capaz de os pentear, se quisesse.

--Você?

--Eu mesmo.

--Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim.

--Se embaraçar, você desembaraça depois.

--Vamos ver.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Vincent



Eis o primeiro trabalho em Stop Motion de Tim Burton; Vincent de 1982 conta com a narração do ator Vincent Price... Destaque para o riquíssimo emprego de rimas e para a citação de Edgar Allan Poe ao final do conto, citando O Corvo.

Fragmentos de Vida



Em silêncio me consome,
Pouco a pouco me mata,
E sem deixar vestígios, logo some.
Sem destino, afogo-me no mar que é você.
Vejo em teus olhos todos os vícios.
Aqui fico, reduto as banalidades de minha vida inteira.
Em silêncio desejo que morra...
Pouco a pouco meu pensamento te mata
Suma-te agora, livre-me dos estigmas,
Livre-me dos chagas, das impurezas,
Livre-me da tua sina...
Queimo todas as tuas fotos na esperança de queimar junto essa agonia.
Vejo teu rosto em todas as mulheres, sinto teu cheiro em todos os perfumes.
Mas o que resta agora são apenas cinzas,
Vestígios de um pedaço da  minha vida...

           
                                                                               Antônio Piaia

Na Vigília de Meu Sono



De espera, deixei escapar ao porteiro,
Sentimentos tão belos, puros e sinceros,

Na vigília de meu sono certeiro,
Guardava no peito, da paixão os flagelos.

E sutilmente ao ver-te o torso despido,
Rompia ao acaso um sentimento inesperado.

E por medo, velei o inimigo,
Amigo pertinente de um sonho desesperado.

Por adeus assim como o seria, falta me faria,
Escondi-me então na mais profunda falsa alegria.

Vivi assim, amargamente em nostalgia,
Na esperança de ter-te aos braços mais dia, menos dia...


                                                                       Antônio Piaia

Kings of Convenience - Know how



Kings of Convenience, um sonzinho pra embalar um romance. Ou pra embalar aquela nostalgia ou aquela pretensão em casos menos favorecidos...

Conheci essa banda a certo tempo, sobre comentários do amigo Carlos Quadros, vulgo "Tevez". Aproveitando a "ponta" deixo uma propaganda sobre o trabalho do amigo, que por mais de vez me inspirou e me influenciou; segue o blog propriamente dito: http://seisvogais.blogspot.com/

História Trágica Com Final Feliz



Seguindo o embalo de "A Estória do gato e da Lua" de Pedro Serrazina, descobri essa outra fantástica poetiza portuguesa, Regina Pessoa...

Tanto a animação quanto a narração estão impecáveis!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Astronauta Onírico



O Astronauta Onírico
Ato II – Relicário Boreal
“Ainda sob o embarque de Apus, Cetus em velocidades incalculáveis afasta-se cada vez mais do Austral, enquanto tange com voluptuosidade os devaneios que o aguardam em Boreal...”

Depois de demasiada euforia, deu-se por conta Cetus de que algo lhe faltava,
De nada valeria chegar à sublime visão de Virgo, tendo as mãos vazias.
Era preciso ser garboso, ofertar-lhe relicário que em Austral não se encontrava...

Ouviu da boca de Auriga, menção sobre Lyra, sobre suas adoráveis melodias,
Deixou fixar-se na idéia de que sob encantos de Lyra, até doce Virgo cederia...
Afinal, se Orpheu dobrou Eurídice, dobraria Virgem sob Cetus ao longo dos dias.

Tal relicário escondia-se em emaranhados Coma de Berenices, como a lenda dizia,
Seu cabelo é na verdade o que vocês aí em baixo chamam de Linha do Equador,
E nem imaginais o quão tentado ficou Cetus, diante do que Berenices fazia...

Tranças e cachos, por onde ninfas subiam em direção aos céus, com ardor...
- Vós que cobiçais Virgo! Disse Berenices: deitais comigo e levas suposto relicário!
Ainda que devorasse seu corpo, Elíseos eram os jardins onde repousava seu amor.

- Pois se é no não que se descobre a faceta da verdade, não me venhas de solidário,
 E tocada pelo encanto de Cetus à Virgo, Berenices repousou na dor de sua solidão...
- Levais Lyra, pois amais Virgo, mas não a conquistará sem dar mão ao imaginário.

Ouviu que o real relicário boreal, se dá na aurora da imaginação,
Ganhou também majestosa trança, para que usasse de corda quando preciso...
E partiu, deixando pra trás a ínfima tira que dá origem a criação.

De longe via que o encontro entre a noite e o dia o deixava indeciso,
É o que causa no peito da gente a vista de uma aurora boreal...
Quando não se sabe dia, quando não se sabe noite, quando não se é preciso.

Mas conforta Cetus, saber que o amigo leitor ainda ache tudo muito surreal,
Que vossa eminência leitoral, ainda não tenha corrido à janela averiguar,
Pois ainda brilha no céu a nebulosa avermelhada, manchada pelo madrigal...


Antônio Piaia

Estória do Gato e da Lua



Essa é uma animação inspirada na obra de Pedro Serrrazina, um poeta Português, sempre que posso cito algum trecho desse poema, mas aqui teremos todo em forma de narrativa e com uma animação muito bem bolada...

domingo, 19 de setembro de 2010

O Astronauta Onírico


O Astronauta Onírico
 [Prelúdio]
“Caro leitor, venho de além cósmico, de além onírico... Compartilhar com vossa senhoria uma estória há muito rabiscada acima de nossas cabeças; uma estória escrita entre estrelas, e que manchou toda uma constelação. Mas para que aprecies tal epopéia, amigo, é preciso que sonhes, é preciso que ainda desperto, deixeis rebentar o fio que o enlaça a dor vivente...Perdoais amigo leitor, a retórica deste que vos narra, mas tenha em mente que sois de molde rústico, de carne e osso assim como vos; e ao falar de estrelas permito me correr o pranto, pois se nas noites que passei inquieto, de cada lágrima vi formar-se nova constelação... Com base nisso e com o indicador em riste direção à teu rosto afirmo: este solilóquio boa poesia dará!”

Ato I – Sonho Austral

É quando cai a noite que se aproxima o luar certeiro,
Ofertando majestosamente o repouso em um lençol interestelar.
A cabeça afunda lentamente em conforto travesseiro...

É aqui que embarca Cetus, O Onironauta, ao som do primeiro silenciar,
Sua Argo Navis; Carina, Puppis e Vela, o levara primeiramente a Horologium,
Onde três eram os ponteiros que regiam os destinos, os fazendo cadenciar.

Em Lupus, duas garras certeiras cortaram o umbilical de sua raiz maternal,
Tivera de buscar refúgio, para o doce embaraço de seu simples cansaço...
Mas foi em Piscis Austrinus, que deu-se a formosura da primeira projeção zodiacal.

Ora, não fosse a anterior implosão do primeiro signo sobre seu tênue humor,
Teria findado passeio e retornado ao seio de seu gentil travesseiro...
Mas viu, ainda que de longe, Virgo... E tenha de súbito amigo leitor!

Em todo zodíaco não há, esse do verbo haver, de encontrar mais formosa dama...
Decido partiu Cetus, nada mais em Austral lhe cabia, nada mais lhe servia,
Levou consigo Crux, rente ao peito, pois era desses que fazia da fé gloriosa trama.

A viagem duraria cerca de três eternidades, onde o espaço/tempo se esvaia,
Pois zodiacal só se fita pela linha eclíptica, entre celeste sul e celeste norte...
Mas se pusesse mãos em Apus... Mais veloz que Argo Navis certamente seria.

Apus, Ave do Paraíso, passa por cá levando os sobreviventes da morte,
Não me negaria carona, mas a que horas passará? Dizem que vem a cada centena...
Mas que brilhante idéia, ó glorioso Cetus! Horologium, o relógio que traz a sorte!

Com o relógio volto cem anos, monto Apus e vou de encontro a minha falena...
Deu de mão e ajustou os ponteiros, viu as guerras e vitórias daquele centenário,
Não pensou no pecado de ir contra o tempo, pois à quem ama tudo vale a pena.

Asas de um puro branco irrompiam o escuro, fazendo do céu mero cenário,
- Apus! Leva-me ao zodíaco, ainda que vivo esteja; sem Virgo não me sinto!
E partiu, buscando nas asas de Apus, bálsamo pra seu coração solitário...  

E que gosto tem amigo leitor... Fazer da paixão doce absinto,
Embriagar-se em tranças de Berenice e sem remorso afogar-se...
Se me julgas é, pois, não sabes o deletério de saciar-se no instinto.


Antônio Piaia