quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Os Satélites Também Caem



Esta noite sonhei que os satélites voavam baixinho,
Mantinham sua órbita em torno das minhas idéias...
Foi quando vi despencar do céu, grandiosa estrutura de metal,
Desmantelou meu pensamento e quase esmagou meu tísico querer.

Engraçado é que quanto mais eu corria, mais eu morria...
E ai se deu minha ironia, pois pensei no sonho fazer poesia,
Quando dei por mim estava caminhando em solo lunar,
Lá de longe vi a terra e todos os satélites evaporarem no ar.

Fui invadido por uma sabedoria desmedida, assombrosa,
Um conhecimento que não me pertencia, que não sei de onde vinha,
Eram fórmulas, conceitos, teorias, ideologias, sintomas de sabedoria;
Olho pra cima e lá estava o satélite rodopiando meu pensar...

No meu sonho quis ser passarinho, voar de volta pra casa,
Tirei do bolso caneta e papel e redesenhei o mundo meu.
Acordei aqui, sem asa e sem casa, sem herança cósmica;
Então veio o sol e clareou o meu dia...

Antônio Piaia

domingo, 29 de agosto de 2010

Não Se Esqueça de Secar a Barba



Não se esqueça de secar a barba, sempre que a colocar de molho,
É pra evitar o fungo do fumo, o cheiro azedo do trago casual.
Não se esqueça do pente fino, que separa a retina do olho,
É pra lhe colocar a par do homem que é ainda neandertal...

Não se esqueça de secar a barba, sempre que lavar o rosto,
Pois se é na face que se estampa teu porta-estandarte.
Deixais crescer a barba em sinal de luto ao desgosto,
Ao gosto da origem lamacenta que busca refúgio na arte.

Não se esqueça de secar a barba, e saiba de todo o mal:
             - Ainda que na cara a vontade de crescer, o cabelo cai,
Levando com ele o satélite orbital da lucidez mental...
Vai te sobrar a fuligem branca que no queixo se esvai.

Não se esqueça de secar a barba; e saiba a vida é uma escada,
Que na morte encontrou a sua sorte... Deixais crescer a barba,
Pois é ela que protege a face nua do tapa certeiro da mão pesada.
 Regue as plantas e nunca, nunca se esqueça de secar a barba...

Antônio Piaia