domingo, 19 de setembro de 2010

O Astronauta Onírico


O Astronauta Onírico
 [Prelúdio]
“Caro leitor, venho de além cósmico, de além onírico... Compartilhar com vossa senhoria uma estória há muito rabiscada acima de nossas cabeças; uma estória escrita entre estrelas, e que manchou toda uma constelação. Mas para que aprecies tal epopéia, amigo, é preciso que sonhes, é preciso que ainda desperto, deixeis rebentar o fio que o enlaça a dor vivente...Perdoais amigo leitor, a retórica deste que vos narra, mas tenha em mente que sois de molde rústico, de carne e osso assim como vos; e ao falar de estrelas permito me correr o pranto, pois se nas noites que passei inquieto, de cada lágrima vi formar-se nova constelação... Com base nisso e com o indicador em riste direção à teu rosto afirmo: este solilóquio boa poesia dará!”

Ato I – Sonho Austral

É quando cai a noite que se aproxima o luar certeiro,
Ofertando majestosamente o repouso em um lençol interestelar.
A cabeça afunda lentamente em conforto travesseiro...

É aqui que embarca Cetus, O Onironauta, ao som do primeiro silenciar,
Sua Argo Navis; Carina, Puppis e Vela, o levara primeiramente a Horologium,
Onde três eram os ponteiros que regiam os destinos, os fazendo cadenciar.

Em Lupus, duas garras certeiras cortaram o umbilical de sua raiz maternal,
Tivera de buscar refúgio, para o doce embaraço de seu simples cansaço...
Mas foi em Piscis Austrinus, que deu-se a formosura da primeira projeção zodiacal.

Ora, não fosse a anterior implosão do primeiro signo sobre seu tênue humor,
Teria findado passeio e retornado ao seio de seu gentil travesseiro...
Mas viu, ainda que de longe, Virgo... E tenha de súbito amigo leitor!

Em todo zodíaco não há, esse do verbo haver, de encontrar mais formosa dama...
Decido partiu Cetus, nada mais em Austral lhe cabia, nada mais lhe servia,
Levou consigo Crux, rente ao peito, pois era desses que fazia da fé gloriosa trama.

A viagem duraria cerca de três eternidades, onde o espaço/tempo se esvaia,
Pois zodiacal só se fita pela linha eclíptica, entre celeste sul e celeste norte...
Mas se pusesse mãos em Apus... Mais veloz que Argo Navis certamente seria.

Apus, Ave do Paraíso, passa por cá levando os sobreviventes da morte,
Não me negaria carona, mas a que horas passará? Dizem que vem a cada centena...
Mas que brilhante idéia, ó glorioso Cetus! Horologium, o relógio que traz a sorte!

Com o relógio volto cem anos, monto Apus e vou de encontro a minha falena...
Deu de mão e ajustou os ponteiros, viu as guerras e vitórias daquele centenário,
Não pensou no pecado de ir contra o tempo, pois à quem ama tudo vale a pena.

Asas de um puro branco irrompiam o escuro, fazendo do céu mero cenário,
- Apus! Leva-me ao zodíaco, ainda que vivo esteja; sem Virgo não me sinto!
E partiu, buscando nas asas de Apus, bálsamo pra seu coração solitário...  

E que gosto tem amigo leitor... Fazer da paixão doce absinto,
Embriagar-se em tranças de Berenice e sem remorso afogar-se...
Se me julgas é, pois, não sabes o deletério de saciar-se no instinto.


Antônio Piaia

Nenhum comentário:

Postar um comentário