quarta-feira, 16 de julho de 2014

Mefisto



[Venha, vamos caminhar sobre o fogo]

A alma é um labirinto, a carne é um abismo.
A noite é densa, a sombra é um levante,
Inerte a causa, vulnerável ao pessimismo.

Presença constante, delírio incessante,
Intangível e sem forma, meu conformismo
Subversivo, caótico e inconstante.

A plena forma da matéria, ceticismo
Anjo e sem asas, pálido e sem rosto,
Ele, assembleia de todo misticismo.

Pobre Fausto, iludido e em desgosto...
A chuva vermelha se aproxima, fim de jogo.
Lágrimas escarlate ao fim de agosto


Venha garoto, vamos caminhar sobre o fogo...


Antônio Piaia

domingo, 8 de junho de 2014

O Vazio Absoluto

O Vazio Absoluto

Inquestionável é a finitude de todas as coisas,
tudo que um dia foi matéria e hoje nada mais é.
Tudo que se desfaz diante da minha retina,
tudo que se desfaz dentro de meu peito.

E eu, que já não sou.
Sinto muito quando nada sinto,
e nesse vazio absoluto me dissolvo,
morro e renasço incontáveis vezes durante o dia.

Questionável, sobretudo é como findam todas as coisas,
e ao falar sobre a finitude do ser
meu intuito não é banalizar a vida,
é, tampouco reverenciar a morte.

Trago comigo os fantasmas das vidas passadas,
fidalgos, mascates, escravos e mercadores...
Todos fomos e todos findamos.
Fadados ao eterno esquecimento e ao silêncio supremo.

[Adiante...] Vi um cortejo fúnebre.
Não conheci o finado, nunca soube se fora amado...
Não me comovi, mas por respeito repousei o chapéu sob o peito,
Fechei os olhos, não para orar, mas para ouvir o preságio.

[Inverdade.] Quis ouvir a mim mesmo...
E ter a certeza de que também serei esquecido,
Que terei meu corpo corroído.
Meus ossos reduzidos a pó.

Já não temo o findar.
Ainda que não o clame, anseio pelo dia em que virá...
Então saberei o a seguir de meu último instante,
e isso há de ser o suficiente para seguir adiante.

Por isso rogo, não chores a cada partida minha,
pois é de minha natureza morrer e renascer...
E quando fechares teus olhos, ouça o teu silêncio,
encontra-te no abismo das coisas esquecidas

Eu estarei lá.
De uma forma ou outra, eu estarei lá...
Como nunca estive aqui. E nesse dia,
Todo esquecimento retornará em forma de lembrança,
E eu hei de me tornar a luz da tua esperança.


Antônio Piaia

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Desvanecer



Ainda que pesasse meu coração contra a escuridão vindoura,
eu nada sentiria.
Ainda que anoitecesse a luz da tua aurora,
eu nada temeria.

Já me sinto desvanecer,
desvanecer novamente.

Nessa noite não sou nada,
E ainda assim sou muito mais do que deveria ser.
Penso no quão nada todos somos,
perante o que deveríamos ser.
E ninguém, exceto pela sombra que me acompanha,
poderia saber.

De todas as cicatrizes que me acompanham,
você é a que dois mais.
Mesmo sendo você,

a que menos deveria doer...


Antônio Piaia

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Incompetência Astral



Eu, no cadafalso de minha própria sorte
e meu ceticismo de coisas banais.
São signos inquietos que me afastam do norte,
doze punhais e nada mais.

Projeções conjecturais de minha própria alma,
doze casas astrais.
silenciosas aflições de meu próprio carma,
doze punhais e nada mais.

Apesar disso, dói a infidelidade do meu astro
e a incompatibilidade dos signos ancestrais...
Sigo peixe no seu rastro,
doze punhais, nada mais.

Antônio Piaia

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Paisagens Internas



Dos conceitos distorcidos eu sou o filho,
dos antagonistas vencidos eu sou o pai.
Sou a seita dos órgãos transplantados,
levedo dos pensamentos inacabados.

Sou o tempo do teu próprio tempo,
Senhor do teu esquecimento!
Sou a sombra que invade,
sob a luz que se expande...

Fui concebido pela boca do covarde
e abortado pela glória do valente.
Das estrelas sou a constelação,
dos inertes sou a consternação...

Meu nome são todos os nomes,
sou a cegueira nos olhos dos homens.
Tempestade que precede a calma,
sou o solstício que anoitece a alma.

E muitos me têm por presságio...
Navegantes à deriva em seu próprio naufrágio.
Sou a indefinição da teoria,
Plano de fundo da sabedoria.

Ao fim, sou o tudo e o nada!
Como uma paisagem desbotada...
Fecho os olhos enquanto lamento,
essas tantas palavras jogadas ao vento.

Antônio Piaia

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Espelhos


Espelhos


Tão vaga promessa fiada
ao desconforto do descaso.
Não dizia nada a tua boca velada
no estreito silêncio do simplório sufoco.

Tua voz além da minha voz,
falaria ainda mais sobre nada ter a dizer...
Tortuosa sina de meus pensamentos errantes,
amarga a minha vida no momento inconstante.

Ao passo que sigo repito e repito...
São dias de sono, cansaço e ausência.
Um reflexo distorcido ao espelho,
foge de mim ao ver o desespero.

Olhos tão profundos que miram sabe-se lá o que...
No fundo, no fundo brilham meus olhos
mas não se pode ver...
E por que brilham ainda esses olhos profundos?

Sabe-se lá o porque ...

Antônio Piaia


sábado, 30 de junho de 2012

A Sombra dos Lençóis



Entre a carne e a alma existe um espaço,
um infinito de possibilidade por onde perdem-se
nossos desejos.

Entre a carne e alma existe uma força,
um magnetismo que me remove do mundo e me joga
nos teus braços.

Entre a carne e a alma existe a ausência,
um frio além dos dias frios que segue congelando
nossos corações.

Entre a carne e a alma existe o orgulho,
arrogância essencialmente nossa, um fim por onde
esvaem-se os meios.

Entre a carne e a alma existe o tempo suplicante:
"confia em mim hoje pois o amanhã
 a vocês pertence..."

Entre a carne e alma existimos.
Nada mais importa; e o resto...
É a sombra dos lençóis.



Por: Antônio Piaia

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Coisas Que Não São


As coisas...Sobretudo as coisas que perdi,
coisas que não são, ainda que em mim...
Não passam de coisas que nunca serão!

Pois veja só! Mais um belo sentimento...
Que no desfarce de coisa, não me diz nada,
sobretudo a coisa ainda causa...

Dano imediato, subterfúgio inapropriado;
pois coisas, não mais do que coisas são!
Pois coisas, são coisas que não são...

Antônio Piaia

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Kings of Convenience - Misread




O importante é ter sossego, o importante é ter vontade... A vontade as vezes abandona a gente, mas a sacada é nunca, nunca abandonar ela!

Ter paciência e perseverança, ouvir calmamente, transmitir um pouco da paz que nos resta, pois se de grão em grão a galinha enche o papo; de paz em paz, mudamos o mundo!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Anfiteatro Bucólico


Senhoras e Senhores, Rapazes e Raparigas que aqui se fazem presentes!
É com grande enfaro, que lhes apresento a mais inútil das histórias já contadas...
Ofereço aos pagantes, o intento de ainda tornarem-se ausentes,
aos quase dúzia que restarem, que se acomodem nas cadeiras empoeiradas...

Lamento, pois o nosso fausto protagonista encontra-se em recesso,
deixo-vos sobre o moribundo colóquio de nosso empedernido coadjuvante...
Não vi ainda, alheio ao purgatório, alma humana em tamanho retrocesso,
Vive de seu pensamento antagônico, incapaz de suscitar Les Tenebries, Avant!

Exéquias! Ó exéquias, para este finado coadjuvante...
Bucólico como a paisagem de um inverno campestre,
mais lhe cabe a mortalha do que este colar de diamante! 

Receio que para essa tristeza mundana, não exista instrumento que meça;
peço-vos desculpas, pelos enfados do teatro moderno,
pois o coadjuvante tão declamado, é este que vos apresenta esta peça...

Antônio Piaia