sábado, 6 de dezembro de 2008

Poesia Cotidiana


Estava eu a caminhar só, estava eu a fazer parte deste relógio Cartesiano...
Tinha os ombros encolhidos e o nariz como uma tromba a bater no chão,
Como pode perceber, eu estava triste!
Então em um breve lapso introspectivo, prostei-me a meditar...
Imerso em cálculos aritméticos e citando filósofos cheguei à conclusão alguma.

Sendo assim...
Desencolhi os ombros, tomei a postura de bípede que me cabe,
Então em um breve lapso introspectivo, prostei-me a meditar...
Sorri e chorei no mesmo segundo, enquanto caminhava pelo mundo,
Nossa! Quanta alegria vi na boca de uma senhora sem dentes!
Eu com todos, ainda me lamento, pobre homem, pobre homem...

Sendo assim...
Elaborei a seguinte ideologia: “alegria, alegria... mesmo que haja nostalgia”.
Segui perambulando, segui matutando... Cansei-me e resolvi sentar,
Traga-me um café! Disse ao moço do botequim. Forte e com duas colheres de açúcar,
É comprovado por este que vos fala que mais do que duas colheres estragam seu café.
Disse ao taverneiro, “alegria, alegria, mesmo que haja nostalgia” ele sorriu!

Sendo assim...
Levantei-me e decidi, está comprovado que minha ideologia é mais que eficiente!
Sai pelas ruas gritando “alegria, alegria, mesmo que haja nostalgia”...
Estendi mão à formosa senhorita que estava cabisbaixa em seu canto e lhe disse:
Alegria, alegria, mesmo que haja nostalgia... Menina por que choras?
Porque a nostalgia é maior que a alegria... refleti sobre a nostalgia da menina.

Sendo assim...
Refiz minha via sacra sobre alegria e nostalgia no meu segundo mais veloz!
Mas e quando a nostalgia for maior que a alegria?! Fracassou minha teoria?
Então com o pingo de cera quente de minha última vela incandescente veio à luz...
Traga-me uma xícara de nostalgia e duas colheres de alegria.

Sendo assim...
Solucionei a fórmula exata dos sentimentos, está por ai nos botequins da vida.
Chora menina... Chora sim e com vontade! Mas sorria duas vezes logo em seguida...
Pode parecer ironia, mas a minha alegria compensa a sua nostalgia, vês?!
Por isso repito duas vezes, alegria, alegria e só uma a nostalgia.


Antônio Piaia

Os Ventos de Lá


Aquele vento...
Aqui ele não sopra como lá,
E essa saudade, essa nostalgia.
Esse sentimento de ter deixado algo grandioso pra traz...

Recordo-me de nossas andanças desafortunadas por aquele bosque...
Aquele bosque...
Lembro-me também do beijo tímido que te ofertei,
E pensar que aquele era o nosso começo...

O tempo passou, mudamos a cada segundo,
Como diria meu avô a única certeza em nossas vidas é a mudança,
Busco em ti a menina de ontem, mas pra onde ela foi?
Tudo bem, eu me perdi também...

E agora já se vão meses, logo se irão os anos e eu continuarei aqui,
Vivendo desse passado, sinto como se devesse esquecer tudo,
Mas no fim das contas era você que estava ao meu lado...
Que direito teria eu, pobre homem de te esquecer ou ao menos tentar...

Se esse é o preço do tal amor, pouco me importo,
Amo-te aqui sozinho, amo-te aqui em silêncio para que ninguém mais saiba.
Guardo-te em meu coração e não se preocupes, pois teu lugar a muito já estava guardado...
Aquele vento...




Antônio Piaia

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A Fuga


Todas as manhãs eram iguais, e eu sempre partia em fuga,
Escondendo a cabeça entre as pernas.
Todas as noites eram iguais, e eu sempre me sentia só,
Tapando o rosto com as mãos.

Esta manhã foi diferente, e eu resolvi não fugir,
Erguendo a cabeça sobre as pernas.
Esta noite foi diferente, pois você estava aqui.
Acariciando meu rosto com suas mãos.

Mas amanhã como será? Lamento ter que acordar,
E esconder a cabeça entre as pernas.
E então a noite virá, e essa história se repetirá,
Tapando o rosto com as mãos.


Antônio Piaia

Fim


Matou-se, suicidou-se, acabou-se,
Findou-se em 20 comprimidos de benzodiazepines,
Embriagou-se em 5 litros de vinho do porto,

Matou-se, suicidou-se, acabou-se,
Buscou fim no corte de um canivete sem fio,
Tentou morte no ultimo tiro da roleta russa,

Matou-se, suicidou-se, acabou-se,
Caiu do alto do 9º andar,
E morreu de desgosto, afogado em solidão...


Antônio Piaia

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Espaço em Branco


A vaga lembrança dos sentimentos,
Que aos poucos se torna solidão,
As lágrimas nos piores momentos,
Sem dizer nada cortam meu coração.


Sem sonhos, sem vida, jaz minha alma,
E nestas linhas esboço minha dor,
Para o ultimo suspiro vir com calma
Escrever-te-ei sobre aquilo dito como amor.


Debruçado sobre a vastidão do pensar,
Aqui me fico estagnado, como louco,
Sem caminhos, o que resta é apenas vagar...
E sem saber me mato pouco a pouco.


Sei que sobre o amor nada sei,
É apenas o que sinto sentado nesse banco,
Tentando compensar todo o tempo que passei,
Buscando as palavras para esse espaço em branco...


Antônio Piaia

Oceano


No fundo do mar ainda pude ver o céu,
Contemplar mais um sublime entardecer,
Esperando a morte tecer o seu próprio véu,
Afogando-me na agonia do anoitecer.

No fundo do mar, boiando entre os corais,
Eu, homem-peixe, prefiro morrer despedaçado,
A passar a vida entre os homens normais.
E o corpo que respirava, deixo no passado.

No fundo do mar, das sereias provarei o fel,
Que me privaram até o dia de morrer,
No fundo do oceano me desfaço deste anel...
E deixarei as algas assistirem meu corpo apodrecer.

No fundo do mar, de onde fugirei jamais,
Lamento infinitamente por tê-la magoado...
Compenso tua dor com minhas palavras finais,
As que deixei em tua cama, antes de morrer afogado.


Antônio Piaia

Acelerador de Partículas


Viagens galácticas e outras histórias fantásticas,
São frutos da irrefutável lei da compensação,
Que diz que a massa alcança densidades drásticas,
Já que no vácuo do espaço não existe negociação.

Quem sabe desafiando as leis metafísicas,
Fosse possível caminhar no cosmos da desolação,
E quem ousado o seria em contrariar as estatísticas,
Para sentir no peito o acalento da imensidão.

Sabe-se precisamente, através de equações aritméticas,
Que o corpo humano se desmancharia devido à alta pressão...
Mas os físicos esqueceram a alma e suas medidas milimétricas,
Pode sim o homem caminhar entre as estrelas então!

Enganou-se Newton, esqueceu-se de situações hipotéticas!
Calculou o corpo, e da essência d’alma abriu mão...
Mal sabia que a vida não se dá em linhas geométricas
E que o homem já era parte da mais divina constelação...



Antônio Piaia