sábado, 21 de agosto de 2010

A Sedutora




Se te insinua, desperta ainda mais o meu instinto...
Pra depois me deixar assim, tão cheio de pecado,
Tão inebriado de luxúria, tão escravo do que sinto.

No meu corpo só, a delicada embriaguez do corpo teu.
E no crespo de teu cabelo o nó que me trava a garganta,
Permitiu-se a pele negra arrepiar, num derradeiro suspiro meu...

Sobre a encosta do seio macio. Às margens do toque sutil,
Correu o suor que levara o arder do aconchego teu...
 Acabou-se por refém da libido em um beijo febril.

Se te navego é pra depois me desaguar em teu sorriso acanhado;
Que se mostra de lado, por debaixo de teu corpo faminto,
E tuas pernas tremem aos passos de um tango desafinado...

Vem desse teu silêncio gemido uma vontade de gritar...
 Se hoje me maltrata é pra amanhã me seduzir,
Se agora me abandona é pra depois me conquistar.


                                                                    Antônio Piaia

O Empírico



Foi de cansado que abri mão da alquimia,
Por estar desgostoso com a hermética, fui morar em confinamento,
Soluções, vapores e intenções à noite, solitude durante o dia...

Então, ainda em ebulição, formou-se um medíocre pensamento
E de uma ruptura científica consumiu-se em taquicardia,
Não era o éter, não era o sal... Talvez a afasia em pleno movimento.  

Outro patrício, outro pioneiro, outra vida que se esvaia,
Mas o princípio empirista de minha antiga ciência me trouxe alento [transformação]
Do sangue ao diamante, o único fim que me cabia.

[Gênesis]
E meus cabelos viraram fios de cobre, meus dedos pedaços de giz. No calcário úmido que outrora fora meu abrigo orgânico, queda-se uma ametista vermelha, pulsante como o coração de um velho errante.

                                                                                                                                     Antônio Piaia