terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Anfiteatro Bucólico


Senhoras e Senhores, Rapazes e Raparigas que aqui se fazem presentes!
É com grande enfaro, que lhes apresento a mais inútil das histórias já contadas...
Ofereço aos pagantes, o intento de ainda tornarem-se ausentes,
aos quase dúzia que restarem, que se acomodem nas cadeiras empoeiradas...

Lamento, pois o nosso fausto protagonista encontra-se em recesso,
deixo-vos sobre o moribundo colóquio de nosso empedernido coadjuvante...
Não vi ainda, alheio ao purgatório, alma humana em tamanho retrocesso,
Vive de seu pensamento antagônico, incapaz de suscitar Les Tenebries, Avant!

Exéquias! Ó exéquias, para este finado coadjuvante...
Bucólico como a paisagem de um inverno campestre,
mais lhe cabe a mortalha do que este colar de diamante! 

Receio que para essa tristeza mundana, não exista instrumento que meça;
peço-vos desculpas, pelos enfados do teatro moderno,
pois o coadjuvante tão declamado, é este que vos apresenta esta peça...

Antônio Piaia

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Derradeiro Adeus


Já vinha a luz do primeiro sol...
Enquanto desabotoava a fina camisa de seda sobre meu peito,
fez de meu achego morada boa, deixou vagar um céu em mim.
Mal sabia o quanto me rasgava a carne já trêmula,
mal sabia o quanto me doía o toque iluminado do primeiro dia...

É mais pelo calafrio que vou embora...
O desapego seguinte maltrata menos que esse molhado bom,
maltrata menos que os estalos desse seu caminhar,
maltrata, como maltrata...

Hoje vou-me embora, pois pra mim não há retorno,
deixo um beijo chorado sobre o seu sono modesto,
deixo uma rosa desfolhada e um verso em papel de pão...

[Foi uma manhã de sol que passou pela canção da gente,
levou-te embora e fez de mim um pobre indigente...]

Antônio Piaia