domingo, 29 de agosto de 2010

Não Se Esqueça de Secar a Barba



Não se esqueça de secar a barba, sempre que a colocar de molho,
É pra evitar o fungo do fumo, o cheiro azedo do trago casual.
Não se esqueça do pente fino, que separa a retina do olho,
É pra lhe colocar a par do homem que é ainda neandertal...

Não se esqueça de secar a barba, sempre que lavar o rosto,
Pois se é na face que se estampa teu porta-estandarte.
Deixais crescer a barba em sinal de luto ao desgosto,
Ao gosto da origem lamacenta que busca refúgio na arte.

Não se esqueça de secar a barba, e saiba de todo o mal:
             - Ainda que na cara a vontade de crescer, o cabelo cai,
Levando com ele o satélite orbital da lucidez mental...
Vai te sobrar a fuligem branca que no queixo se esvai.

Não se esqueça de secar a barba; e saiba a vida é uma escada,
Que na morte encontrou a sua sorte... Deixais crescer a barba,
Pois é ela que protege a face nua do tapa certeiro da mão pesada.
 Regue as plantas e nunca, nunca se esqueça de secar a barba...

Antônio Piaia

2 comentários:

  1. Quem disse que para os poetas nao existe telepatia?

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  2. A telepatia é um satélite que faz ficção científica na cabeça do poeta!

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