Do tanto que ouço acabei por perder a vontade de falar,
Um gesto aqui, outro ali e quando muito um aceno de mão...
Do tanto que ouvi e do tanto que já deixei de contar
Fez-se meu olhar de neblina, dois faróis que miram o chão.
Do tanto que me pondero sempre trago minha mão junto à boca;
A plena concha, por onde se esvaem os verbos que não conjugarei,
Do tanto que perdi, hoje sei que essa é uma concha plenamente oca,
E esse silêncio é um escudo, evita que eu acabe por falar sobre o que não sei...
Do tanto que observo me expresso mais pelos olhos do que pela fala,
Meu grito é o estralo dos ossos, um cacoete extremamente relaxante...
Do tanto que escrevo, minhas mãos falam o que minha boca sempre cala
E silenciosamente encontro conforto na visão de um horizonte distante.
Do tanto que evito, permito-me sumariamente ao dom do escapismo,
E aos finais de minhas fugas, durante o banho tomo a posição de feto.
Para aqueles que olham de longe, eu sei, pode até parecer autismo...
Mas esse frio que suplica um aconchego faz de mim um verso único e reto.
Do tanto que meço os sentimentos, fiz de minha alma uma espécie de escada
Por onde sobem aqueles que por merecimento recebem minhas poucas ressalvas...
Do tanto que sinto, assim tão à flor da pele, fiz de meu peito uma espécie de sacada
Por onde me vejo navegando solitariamente no mar efêmero de minhas poucas palavras.
Antônio Piaia
Antônio Piaia
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ResponderExcluirPoxa... cara estou pra dizer, nao digo porque também sou de poucas palavras (ehehhe), que esta, dentre as que fizeste, é uma das melhores que eu já li... Foda... Tens a poesia no olhar....
ResponderExcluirAbração, honrado poeta...
Fico grato pelos elogios do amigo... O estranho é que quanto mais fujo da poesia, mais ela me encontra! Não queria realmente poetizar assim tão explicitamente sobre o que não sou, mas quando vejo aqui estava o meu retrato, embaçado, distorcido mas ainda assim perene...
ResponderExcluir"Se o que eu sou é também o que eu escolhi ser... Aceito a condição."