segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Maré



Vem de encontro às pedras, rebentar-se contra o cais de meu peito...
Sei que é por vaidade que me deixa a deriva, bem sei os teus poréns reais,
E quando retorna ao mar, displicentemente, ignora o mal que tem me feito,
Deixando pra trás nada mais que a amarga ferrugem dos sais e minerais...

A maré é tão assim... De fazer mal a quem só quer lhe dar prazer,
Amar é tão assim... De trazer o silêncio a quem não sabe o que dizer...

Me faz anzol Nossa Senhora! Pra que eu pesque ao invés de ser pescado;
E quando vier a maré que me deixe mais que a ressaca de um amor perdido,
Me faz barco Nossa Senhora! Pra que eu navegue longe desse mar de pecado;
E quando vier a maré minha santa, enxuga as lágrimas desse peito partido.

A maré é tão assim... De derramar o pranto no peito do pescador,
Amar é tão assim... De fazer até o mais descrente rezar com ardor...

Peço tanto a Iemanjá, patrocínio qualquer ou quem sabe intervenção divina,
Pois na maré, tudo parece tão só... E que dó me dá saber que aos poucos ela se esvai...
Que se afoga no sal à beira da praia, que se afoga em um sal que não se refina,
Imploro remendo na rede da minha alma, pois a maré, assim como vem, vai...

A maré é tão assim... Sobre ir e vir.

Antônio Piaia 

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